terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

#112 - SETEMBRO (José Tolentino Mendonça)

 ...quanto mais envelheço, mais pueril é a luz
                mas essa vai comigo.


Nesses dias distantes eu vagueava pelas matas
enchia a espigarda de chumbo e disparava
contra o silêncio das árvores altas
só para assistir ao espectáculo dos pássaros em debandada
experimentava uma exaltação -- de que tenho hoje pudor
perante imagens que partem:
fragmentos rápidos, passagens, segredos que se apagam
nesses dias distantes nem suspeitava
a vida pode ser interminável

o que deixaste abandonado regressa aprende-se depois
quando, por exemplo, a esquecida infância se parece
com certos cães deixados de propósito a muitos quilómetros
que ladram não se percebe como
à porta da velha casa


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